Por que a plataforma SOI se debruça sobre a Oncogeriatria?
O câncer já a principal causa de mortalidade em países de alta renda e se tornará, nas próximas décadas, a principal causa de morbimortalidade em todas as regiões do mundo, independentemente dos níveis de recursos desses países.
E o que a população geriátrica tem a ver com isso?
Porque é nessa fase da vida onde a maior parte das neoplasias são diagnosticadas (mediana de 66 anos nos EUA) e onde ocorrerá a maior parte dos óbitos (mediana 72 anos nos EUA).
Saber tratar adequadamente essa população é imperativo nos melhores serviços de saúde.
Paradoxalmente essa população é, na maior parte das vezes, sub representada nos estudos clínicos de intervenção com drogas antineoplásicas.
Por tudo isso, as sociedades médicas de oncologia em todo mundo (ASCO desde 2018) estão recomendando a realização da AGA (Avaliação Geriátrica Ampla) nos idosos com câncer, em especial àqueles potenciais candidatos a quimioterapia. (Nível de evidência: alto / Recomendação: forte)
Mas o que vem a ser a AGA ?
A AGA é definida como um processo diagnóstico multidimensional, interdisciplinar, que complementa o exame clínico tradicional. Ela serve de base para a determinação das deficiências, incapacidades e desvantagens do indivíduo idoso. Através da AGA as “Síndromes Geriátricas” são identificadas permitindo o desenvolvimento de um plano individualizado de tratamento e acompanhamento a curto, médio e longo prazo.
A “Síndrome Geriátrica” é um termo usado para se referir a condições de saúde comuns em idosos que não se encaixam em categorias de doenças “órgão-específicas” e que frequentemente têm causas multifatoriais.
A lista inclui condições como comprometimento cognitivo, alterações do humor, delirium, incontinências, desnutrição, síndrome da fragilidade, quedas, tonturas, distúrbios da marcha, distúrbios do sono, iatrogenias, déficits sensoriais e até mesmo insuficiência do suporte familiar e social.
Essas condições repercutem de forma importante na funcionalidade e qualidade de vida dos idosos, aumentado a vulnerabilidade a eventos estressores e porque não ao próprio tratamento. Identificá-las adequadamente é condição básica para um tratamento mais apropriado.
Uma revisão sistemática de 35 estudos em 2018 concluiu que a aplicação da AGA nos pacientes idosos com câncer alterou o tratamento quimioterápico em 28% dos pacientes, sendo a maioria orientado para um tratamento menos agressivo. Intervenções não oncológicas e que melhoram a qualidade de vida dos pacientes foram recomendadas em 72% pacientes avaliados, em especial para questões sociais, nutricionais e adequações em polifarmácia. Houve também efeito positivo na conclusão do tratamento em 75% dos estudos e redução de toxicidade e complicações relacionadas ao tratamento em 55% dos estudos avaliados.
Portanto, ao nos depararmos com um idoso com câncer, devemos sempre nos lembrar da foto abaixo. O câncer pode ser apenas a ponta do iceberg…
“Tão importante quanto conhecer a doença que o homem tem, é conhecer o homem que tem a doença”
William Osler 1878
Paulo de Oliveira Duarte
Médico Geriatra e Paliativista